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ARQUITETURA, PINTURA E ESCULTURA NA COMARCA DO RIO DAS MORTES

Como em toda região mineradora, o estilo artístico que predominou nas construções civis e religiosas da Comarca do Rio das Mortes foi o barroco de influência portuguesa. A princípio, a arte barroca desenvolveu-se na colônia a partir de elementos arquitetônicos e ornamentais transplantados diretamente de Portugal, através da importação de plantas, profissionais e materiais próprios para ornamentação. Imagens, retábulos em madeira e azulejos para revestimento chegavam nos navios portugueses prontos para compor a decoração dos templos, cuja construção seguia, também, as tendências arquitetônicas da metrópole.
Na Capitania de Minas Gerais, a distância do litoral e as dificuldades de importação de materiais e técnicas construtivas imprimem à arte barroca colonial um caráter peculiar, que possibilita a criação de um estilo diferenciado, marcado pelo regionalismo. Neste contexto, vários artistas executam seus trabalhos artísticos a partir das condições materiais da região, empregando o quartzito e a pedra-sabão e criando uma pintura ilusionista que simulava a textura do mármore nos processos construtivos e decorativos. Desta forma, o barroco desenvolvido na região mineradora ganha expressão particular, firmando-se como estilo próprio que se chamou Barroco Mineiro.
Além disso, a vida social mineira organizou-se de modo particular, evidenciado pela primazia das irmandades religiosas, que promoviam o agrupamento da população em classes sociais distintas, a partir do critério racial. A importância de um povoado estava estritamente ligada à questão religiosa, evidenciada pela imponência de suas capelas, igrejas e matrizes. A rivalidade entre as diversas irmandades religiosas existentes incrementou a construção de templos suntuosos, que ostentam fachadas e interiores ricamente ornamentados. Nos primeiros anos da colonização, a primeira providência tomada pelos habitantes dos arraiais mineradores era construir uma capela de pau-a-pique, que seria, mais tarde, ampliada e enriquecida pelos melhores artistas da região. Esta evolução pode ser percebida em quase todos os templos da região do Rio das Mortes, que apresentam elementos ornamentais das três fases do barroco mineiro — nacional português, D. João V ou joanino e rococó, além da fase chamada neoclássica.
Exemplo desta evolução, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei possui fachada em estilo derivado da fase neoclássica, enquanto o interior mostra trabalhos em talha que transitam entre a primeira e a segunda fases do barroco. O forro da nave apresenta pintura à têmpera com a Virgem e o Menino em um medalhão central, em perspectiva ilusionista, vinculada à segunda fase da decoração pictórica.
Em Tiradentes, a construção da Matriz de Santo Antônio data de 1734, embora o templo tenha sofrido reformas sucessivas. Uma nova fachada foi erguida em 1810, inspirada em um desaparecido risco do Aleijadinho, cujos elementos arquitetônicos e escultóricos se relacionam ao rococó. O frontispício da igreja apresenta uma das mais belas portadas do artista, também elaborada em pedra-sabão. Mas é o trabalho de talha dourada de seu interior que mostra toda a exuberância decorativa do barroco mineiro. Mescla de várias fases do estilo, é possível observar magníficos exemplares da fase joanina em transição para o rococó. A pintura em caixotões emoldurados no forro da nave diferencia-se dos trabalhos pictóricos da capela-mor, marcados pelo gosto rococó. Outro destaque da matriz é a decoração rococó da caixa que abriga o antigo órgão, assinada por Manuel Victor de Jesus.
De característica diferenciada, destaca-se ainda o conjunto arquitetônico compreendido pelas ruelas, capelas e casario colonial da cidade. Na paisagem barroca, logo se observa a ausência de torres nos templos religiosos, com a solução de sineiras embutidas na fachada do edifício, fenômeno não encontrado em Portugal e mesmo em outras cidades históricas mineiras, considerado um aspecto peculiar da localidade.
Com relação à pintura, a antiga Comarca do Rio das Mortes produziu um dos mais interessantes pintores — Manuel Victor de Jesus. Autor de grande fôlego, deixou como marca principal de seu trabalho artístico a adaptação da pintura ilusionista característica do rococó, num jogo de perspectiva arquitetônica encontrado na Matriz de Santo Antônio e na Capela de Nossa Senhora das Mercês, e, também, na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França localizada em Vitoriano Veloso, antigo Arraial de Bichinho
Em Prados, a sobriedade do partido arquitetônico da Matriz de Nossa Senhora da Conceição contrasta com a fachada e o interior, que apresentam elementos típicos do rococó. A portada possui rica composição escultórica com motivos florais, figuras de anjos e outros elementos decorativos esculpidos em cantaria. A talha dourada da capela-mor é valorizada por fundos brancos e detalhes em vermelho e azul. Nas paredes laterais, existem seis painéis pintados com cenas bíblicas, e, no forro, uma delicada pintura com guirlandas florais em azul. Os altares da nave possuem elegante talha dourada com muitos ornamentos e imaginária de boa qualidade.
A Capela de Nossa Senhora do Rosário comporta-se da mesma forma. A fachada rústica relaciona-se à primeira fase do barroco, enquanto a capela-mor apresenta pinturas com motivos rococós guirlandas e concheados pintados de ocre. A nave com apenas um altar e um púlpito possui talha rococó de boa qualidade, deixada inacabada com revestimento branco

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