Instituto Histórico IMPHIC - Betim
"Sapio ut Protegam, Protego ut Praeservam"
Localização: Regional Citrolândia – Betim – MG.
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http://www.funarbe.xpg.com.br/portal_da_colonia.htm
O Dr. Orestes Diniz, expõe em seu livro que Santa Isabel foi uma colônia criada com o objetivo de erradicar o grande mal ao qual a sociedade estava exposto, e atrelado à ele as pessoas doentes e seus familiares norteariam doravante as suas vidas:
“... o pioneiro moderno da campanha contra a lepra em Minas Gerais foi o Professor Antônio Aleixo. (...) em segmento a esse bem inspirado trabalho, coube ao professor Samuel Libanio, estão diretor de Higiene, iniciar as medidas de profilaxia, cuja expressão maior se encerra na lei nº 801, de 2 de setembro de 1921. (...). Mandatário desta larga e sadia mentalidade, coube a mim, antigo e humilde auxiliar do professor Antônio Aleixo, a missão de dirigir a Colônia Santa Isabel, inaugurada a 23 de dezembro de 1931, estabelecimento projetado para assistência a 1500 doentes, e atualmente já contando 830 internos...”.
A professora Terezinha Assis desenvolve também o surgimento da colônia Santa Isabel e a sua inserção no cenário nacional:
“A implantação da política estatal de assistência e isolamento dos hansenianos se concretizou com a construção das colônias que foram um total de 33 no Brasil, dentre elas, a de Santa Isabel em Betim. O início da construção de Santa Isabel data de 1922 e sua inauguração oficial, de 1931, segundo depoimento de Cordovil Neves de Souza, morador de Citrolândia”.
“A concepção de isolamento deixou de considerar que o doente tinha laços famílias e relações com a comunidade onde vivia. Outro elemento de análise que se faz necessário é que a política oficial de caça ao doente criou um sentimento segregacionista na sociedade em relação ao hanseniano, que o considerou por muito tempo, como um marginal a ser denunciado ao serviço de vigilância sanitária para ser caçado e confinado nas colônias. Esta situação se estendia também aos familiares”.
No intuito de manter o bom funcionamento da máquina, com o passar do tempo tornou-se mais prático utilizar a mão-de-obra local, evitando assim a difícil contratação de profissionais, uma vez que a idéia do contágio da doença era muito difundida. Quem teria coragem o bastante para trabalhar junto aos enfermos. Uma estrutura social e de trabalho peculiares se desenvolve:
“A colônia desenvolve uma concepção de criação de atividades sociais, num primeiro momento. Em seguida, incorporou também o trabalho, para que os doentes não se sentissem ociosos. Aliado a essa situação havia também o temor de trabalhadores ‘sadios’ de irem para o local e contraírem a doença, reforçando a necessidade de mão-de-obra dos doentes, inicialmente, através de bolsa de trabalho.”
“Esses fatos impulsionaram a montagem de uma infra-estrutura econômica de produção própria, onde foram criados olarias, serrarias, unidades de produção agrícola para cultivo e criação de animais com fins de abastecimento da colônia.”
“Os pacientes foram utilizados como mão-de-obra barata (bolsa de trabalho) nas funções de serviços como policiais, pedreiros, serventes, marceneiros, carpinteiros etc. Utilizou-se ainda como auxiilares de enfermagem para trabalhar junto com os profissionais da saúde. (...)”
Citrolândia
“(...) Certo dia, às margens de um pequeno curso d’água, um enfermo internado colocou sua família para cuidar da terra e de umas poucas criações. Era não só um refúgio como excelente campo de trabalho, portanto fonte de renda suficiente para manter algumas pessoas. Ali, naquele sítio sossegado, os encontros furtivos podiam se fazer sem maiores dificuldades. Outra família, em condições semelhantes, veio se ajuntar e depois mais outras, em ritmo sempre crescente foram chegando, e eis que estava constituído o arraial(...)”. (DINIZ, Orestes in: Nós também somos gente).
Resultante da política sanitarista implantada para a erradicação da lepra, a região de Citrolândia surge como um ato contestador dos familiares dos enfermos, revoltados com o descaso frente à real situação na qual todas aquelas pessoas estavam condicionadas. Como diz a professora Terezinha Assis:
“A origem de Citrolândia está intimamente ligada à Colônia e à política oficial que norteou sua implantação. O preconceito e a desinformação da sociedade em relação à hanseníase criaram no imaginário popular, sem distinção de classe social, um sentimento policialesco em relação ao paciente e seus familiares. Esta situação expulsou do convívio social os hansenianos e suas famílias, que foram invadindo terrenos próximos às colônias e se estabelecendo no local”.
A dinâmica de trabalho existente na colônia estende-se para o vilarejo que surgira nas proximidades de Santa Isabel, onde os parentes e familiares dos enfermos se alojavam, por discriminação existente na sua cidade e/ou grupo social, por desejo de ficar próximo ao ente querido ou mesmo por vergonha da sociedade.:
“Citrolândia surgiu como uma comunidade de resistência na periferia da colônia, cujos moradores tinham íntima relação com os pacientes. Essa situação gerou a reprodução das práticas de organização do trabalho e das relações sociais da colônia. (...) não foi programada pelo poder público para surgir no local. Ela foi resultante da relação social, na época, entre os doentes e familiares com a sociedade nas suas cidades e locais de origem que expulsou esse grupo para o isolamento.”
“Os moradores de Citrolândia eram parentes dos pacientes, egressos por cura ou expulsão por indisciplina, pacientes que saíram para criar seus filhos por não aceitarem deixa-los no preventório.”
“A relação entre centro e periferia pode ser identificada devido à semelhança de problemas sociais enfrentados e às diferentes condições de solução entre os dois locais. Na colônia, os pacientes tinham tratamento, alimentação, habitação, financiados pelo governo, enquanto que, em Citrolândia, a população invadiu terreno, não tinha infra-estrutura urbana, mas resistiu aos despejos para ficar perto dos iguais, isto é, próximo das pessoas segregadas pela sociedade devido à hanseníase. Assim, Citrolândia ficou isolada da sociedade, tinha policiamento próprio, comércio próprio e os habitantes ‘sadios’ eram tratados com o mêsmo preconceito dedicado aos hansenianos.” (ASSIS, Terezinha. In: A história da construção de Betim).
Nota-se a formação de outro núcleo segregado, Citrolândia, que se vê obrigado a gerenciar a sua vida sócio-cultural e econômica, uma vez que não se tinha à disposição toda a infra-estrutura propiciada pelo Estado à Colônia. Desenvolve-se uma ‘auto-gestão’ fraca, mas eficiente e centrada no interesse da população local.
Enquanto isso, a colônia ainda se faz presente através de outras atividades. Havia os esportes e a cultura religiosa, presente ainda nos dias de hoje. O futebol sempre praticado destaca-se através do Minas União Clube. Há também o Coral Tangarás de Santa Isabel.
“A vida cultural na colônia era intensa, sendo que grande parte da mesma girava em torno do Cine Teatro Glória, do Clube Recreativo e do Salão de jogos, situados no pavilhão de Juiz de Fora. Havia sessões de cinema, festivais teatrais, ‘horas dançantes’ e bailes aos sábados e domingos, animados pelos conjuntos de jazz, formados pelos rapazes da Colônia. No Salão de Jogos eram promovidos bingos e jogos que envolviam toda a comunidade. (...) Em torno do Pavilhão havia também um dinamismo intenso. Era o local do ‘footing’, de encontros, onde aconteciam os flertes e os namoros que muitas vezes terminavam em casamento e filhos...”.(MENDONÇA E MODESTO in: A memória betinense. Colônia Santa Isabel, rel. p. 39).
Somado a isto, o esvaziamento da Colônia se faz de forma crescente, uma vez que os enfermos não mais precisam estar confinados para realizar o tratamento: “uma camada média e de profissionais liberais que retornam ao convívio familiar ou reconstroem suas vidas longe dali. (...) O fato irá influenciar no declínio da organização das atividades culturais”. (COLÔNIA SANTA ISABEL. Anteprojeto de revitalização: FUNARBE/FUNDEP, p.11)
“Com o passar do tempo, a política oficial em relação às colônias foi se modificando, bem como o avanço da ciência que desenvolveu medicamentos e conhecimentos sobre a hanseníase. O aparecimento de sulfona, como medicamento eficaz para a cura da doença, foi preponderante na mudança da concepção do tratamento que passa a ser feito em dispensários (postos de saúde especificados). Essa situação explicita ainda uma nova concepção sobre o contágio que não é tão fácil de ocorrer como se imaginava no passado.” (ASSIS, Terezinha. In: A história da construção de Betim).
A dinâmica da instituição se modifica, portanto, após a década de 1960. Há uma permissividade maior da instituição se articular com os outros lugares urbanos. Neste cenário, a Colônia e Citrolândia mantêm estreita relação sócio-econômica e cultural, ficando o núcleo histórico da cidade de Betim ainda tímida nas trocas urbanas. Existe um fluxo migratório diário, quando pessoas de Citrolândia e outros locais trabalham na Colônia , e vice-versa, o que demonstra um processo urbano diferenciado que esta região vem sofrendo, quando perde o se caráter fechado e centrado numa instituição totalitária.
O livro de Terezinha Assis traz trechos devida que testemunham a origem do bairro e abordam também o seu antigo nome, que segundo a autora há duas versões. Uma seria alusão ao antigo proprietário de terras na região, e a outra devido a cultura de fruta lima no local. Citrolândia: terra dos cítricos?
“O atual nome é resultado de um projeto de um vereador eleito pela Colônia, aprovado pela Câmara Municipal. (...) começa seu povoamento ainda na década de 1930, próximo do rio Bandeirinhas. Sobe a vertente que separa o córrego Bandeirinhas do córrego Goiabinha. No topo da vertente, está localizado o posto de saúde, a igreja, posto policial, algumas cassas comerciais. Esta área foi o primeiro centro do bairro. Atualmente, o local está perdendo as características de centro e já começa a apresentar sintomas de decadência. Duas vilas descem a vertente do posto de saúde. (...) No eixo da avenida Dr. José Mariano, da BR 381, até a Colônia Santa Isabel, está construída a parte mais antiga. A origem desta porção do espaço é resultante da invasão dos moradores. O traçado das ruas não obedece ao tradicional tabuleiro de xadrez, comum aos loteamentos aprovados pelas imobiliárias da Prefeitura (...).” (ASSIS, Terezinha. In: A história da construção de Betim).
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Rede de Movimento da Sociedade Civil de Defesa do Patrimônio Cultural
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