:: Acervo do Padre Ozório de Oliveira Braga ::
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Padre Ozório Braga nasceu no dia 08 de maio de 1878, em Capela Nova do Betim. Ele foi o mais importante sacerdote da cidade, nascido e vivido em Betim. Ele estudou sacerdócio em Mariana, no Colégio Caraça.
Em 1920, ele assume definitivamente a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, diante da enfermidade do Cônego Domingos Martins, seu mentor.
Sua atuação na cidade transcendia da religião à política. Ele participou, por exemplo, dos movimentos de emancipação política em Betim, tanto em 1900, quando Betim se torna distrito de Santa Quitéria (Esmeraldas) quanto em 1938, quando ocorre a emancipação.
Seu falecimento ocorre em 1968 e marca o início de uma nova fase da política betinense. Em 1997, uma parte do acervo pessoal do Padre Ozório é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural, pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Betim, através da Lei Municipal 2944/96, que trata de proteção e preservação do patrimônio cultural de Betim.
Histórico dos Bens Móveis do Padre Osório Braga
Osório de Oliveira Braga nasceu em Capela Nova de Betim a 25 de maio de 1878 (ou 1879), filho de José de Souza Braga e Dona Rita Cássia de Oliveira, sendo batizado pelo vigário Domingos Cândido da Silveira, a quem iria substituir no pastoreio da cidade, décadas mais tarde.
Após a realização dos primeiros estudos no distrito natal, Osório Braga se dirigiu ao Colégio do Caraça, onde estudou durante quatro anos. Esse período de sua vida foi extremamente marcante em sua existência, produzindo recordações e mesmo o desejo de retornar ao Caraça para passar alio seu jubileu, o que não chegou a acontecer devido a suas ligações com a cidade de Betim. Em sue período no Caraça foi colega de turma de Melo Viana e Afonso Pena, além do Pe. Luís Gonzaga Boavida, do qual se tornou auxiliar, como comentou em entrevista ao Jornal “O Diário”, de 09 de Abril de 1961, página 6: “Ajudei muito o Pe. Boavida em suas obras de arte, tocando para ele o torno. Depois ia ao seu quarto para receber meu soldo diário, as gostosas castanhas”. Desse período também ficaram as lembranças de momentos difíceis, como dos dias de sofrimento quando contraiu a febre beribéri, que assolou o Caraça durante anos.
Em outubro de 1895, Osório Braga entrou para o seminário de Mariana, onde recebeu a tonsura a 12 de abril de 1898, ordens menores a 25 de fevereiro de 1899, subdiaconato a 22 de dezembro de 1900, e presbiterato a 09 de abril de 1901, e nesse mesmo ano assumiu a paróquia na sua cidade natal. Em Mariana, Pe. Osório sentiu a influência do carismático Dom Silvério, Arcebispo da cidade e de quem recebeu a ordenação sacerdotal, e do qual se colocava como discípulo. Sobre o famoso “Bispo Negro”, que morreu membro da Academia Brasileira de Letras, Padre Osório chegou a dizer: “Era uma das glórias do Espiscopado nacional, um sábio e um santo que se realizou por si mesmo. Logo após a minha ordenação, veio aquivisita pastoral. Com o entusiasmo dos meus vinte e dois anos, saudei-o elogiando-lhe a santidade do apostolado. Após o discurso, disse ele: ‘Padre, peça a Deus perdão por tanta mentira”. (Jornal o Diário, 09/04/61)
A principal característica do Pe. Osório, sua habilidade política, só apareceriam em 1920, após a morte do ex-vigário Domingos Cândido da Silveira. Enquanto este viveu, Pe. Osório se manteve distante dos negócios políticos, em respeito a pessoa de seu antecessor, que, no final da vida demonstrava profundo rancor pela política, onde amargou sucessivos fracassos. Pe. Cândido Vieira, que lutou pela localização da sede municipal em Capela Nova e não Santa Quitéria, deixou o Paroquiato em 1901, quando da criação do município de Santa Quitéria. Em outra derrota, no mesmo ano de 1901 lançou sua candidatura à vereança, perdendo para o mestre Pedro, por 153 contra 3 votos. No ao seguinte, recebeu 4 votos de Capela Nova na luta pelo Senado. Desgotoso, Pe. Cândido da Silveira procurou convencer o seu afilhado, Pe. Osório, a se manter distante da política, o que conseguiu durante a vida. Após sua morte, no entanto, Pe. Osório realizou sua vocação, exercendo a vereança, presidindo o diretório político e exercendo o cargo de Inspetor Escolar.
Mais do que os cargos que exerceu, a importância do vigário Osório Braga dentro da história de Betim aparece na influência de sua pessoa sobre os destinos políticos da cidade e principalmente sobre os cidadão, dominando a opinião pública. Ele nunca escondeu seu orgulho por conseguir eleger candidatos que buscavam sue inestimável apoio político. Devido a seu carisma, conseguiram vitória esmagadora no eleitorado da cidade candidatos como Júlio Prestes, Milton Campos, Pedro Aleixo, Gabriel Passos, Jânio Quadros, Magalhães Pinto, além dos políticos locais, como Sílvio César Fonseca e Divino Braga.
A astúcia de Osório foi um elemento importante na emancipação de Betim. Segundo história contada pelo ex-prefeito Divino Braga, no dia da festa da padroeira Nossa Senhora do Carmo, Padre Osório ficou sabendo que o então governador Benedicto Valladares, passaria pela cidade antes da procissão. Imediatamente, o vigário mobilizou uma grande multidão para saudar o visitante e solicitar a inclusão de Capela Nova na reforma administrativa. A manifestação efusiva e a longa oração do vigário convenceram o governador (Fonseca, 1975, p. 105 e 106). Quando da solenidade de instalação do município e comarca coube ao padre a condição de orador oficial.
Mas até a sua morte pe. Osório conservou também a lembrança de conflitos e derrotas causadas pela política. O episódio mais folclórico ocorreu quando partidários de Washington Luís se revoltaram contra ele, chegando a formalizar ameaças de morte. No dia da deposição de Washington Luís, de madrugada, homens e mulheres se dirigiram revoltados à casa do vigário, gritando “morra o Pe. Osório” e desferindo tiros de espingarda, que acertaram a janela do quarto do religioso.
Em 1932, conflitos políticos obrigaram o vigário fugiu da cidade., sendo encontrado pela milícia comandada por Anastácio Franco, seu rival político. Este, no entanto, decidiu pela sua libertação, justificando: “A fuga é humilhação bastante para ser um homem. Prendê-lo e execrá-lo perante seus amigos e fiéis, isto jamais consentirei”. Descrito pelos fiéis como bondoso e dedicado, em política Pe. Osório se mostrava intransigente e intolerante, vendo naqueles que discordavam de sua idéias políticas adversários a serem derrotados de maneira implacável.
No plano religioso, seu Paroquiato durou setenta e sete anos, só terminado com sua morte em 1968. Percorria sua freguesia a princípio de cavalo, às vezes mesmo a pé, indo até Engenho Seco, Sarzedo, Vianópolis e Santo Afonso. Seus últimos anos de pastoreiro foram marcados pela construção da nova matriz da cidade. Na verdade, Padre Osório não desejava a construção da nova igreja, tendo sido convencido por Francisco Gomes do Prado, em janeiro de 1957, quando dirigiu a reunião que escolheu a diretoria responsável pela construção da nova matriz. Pe. Osório era, no entanto, contrário a destruição da antiga matriz. As duas posições se mostraram, no entanto, inconciliáveis, já que as obras de construção comeram as verbas que deveriam ser destinadas a recuperação da igreja antiga. Os partidários da construção da nova matriz defenderam a obra dizendo que novo prédio seria moderno e arrojado, sóbrio e acomodaria confortavelmente um público de até 2.200 fiéis. Na opinião do historiador Geraldo Fonseca, a demolição da antiga matriz foi comandada por elementos que não tinham laços de origem em Betim. O conflito seria na verdade travado entre os filhos da cidade e os forasteiros que quando chegam no novo domicílio espalham “verdadeira campanha mudancista”. O forasteiro “de verbo fácil, conquista adeptos e dentro em pouco passa a compor os escalões legislativos e administrativos, (...) e seu afã, com raríssimas exceções, é demolir o velho que existe em seus novos domicílios” (Fonseca, 197 , p. 173).
Padre Osório teria lutado inutilmente pela demolição. Sua imagem, de todo jeito, ficou associada a da antiga matriz, graças a construção de uma busto em sua homenagem na praça da igreja destruída, por decisão da Câmara Municipal, em 25 de setembro de 1967. Pouco depois, em 18 de maio de 1968, o vigário encontrou a morte, sendo enterrado com a presença de centenas de fiéis e admiradores. Durante a vida, Osório Braga recebeu as honras de Monsenhor e Camareiro Secreto de Sua Santidade, o Papa Paulo VI.
Além da sua importância na história das articulações políticas, a vida do vigário Osório é um marco dentro da história. Sua morte representa o fim da era de Betim como uma cidade tradicional do interior. Com ela, inicia-se o processo de modernização., consolidando-se assim a imagem do padre como o grande guardião das tradições locais. Resistente às transformações, rezava missa em latim e de costa para o público, mesmo após o Vaticano ter ordenado a mudança. Com certeza, a antiga matriz será sempre lembrada como a igreja do padre Osório.