Instituto Histórico IMPHIC - Betim

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Histórico da “Barreira” da Polícia Rodoviária Federal / Monumento de Inauguração da Rodovia Fernão Dias

Localização: Rodovia Fernão Dias, Km 483 – Betim – MG.


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A Rodovia Fernão Dias tem grande importância para a economia nacional, pelo fato de ligar Belo Horizonte a São Paulo. Todavia, não é apenas a ligação entre duas capitais que se faz, mas de estados e regiões de boa parte do país. Com isso, o transporte é intensificado e a industria tem um “corredor” de escoamento de produtos. O monumento e a edificação da Polícia Federal, tratados neste histórico, são referentes à construção de um trecho da rodovia (o trecho mineiro), o que liga Belo Horizonte à cidade de Extrema, no sul de minas. Dessa forma, este histórico não visa apenas uma abordagem a respeito do monumento e da edificação ou do trecho da rodovia, mas também de uma conjuntura que envolve aspectos econômicos e políticos que proporcionam a construção da Rodovia Fernão Dias.
O presidente do Brasil naquele momento histórico era Juscelino Kubitscheck, que assume o poder através do voto direto, em 1956. O compromisso do então presidente era o desenvolvimento nacional. Para ele era extremamente necessário que o país “saísse da estagnação econômica em que se encontrara”. Devido a este motivo e nesta ocasião, que é lançado o slogan “cinqüenta anos em cinco”; isso resumia a política governamental de Juscelino para “tirar o país do atraso”. Naquela conjuntura, a industrialização do país era o fator principal de desenvolvimento, porém, o país não apresentava condições de infra-estrura básica para o desenvolvimento industrial. Juscelino cria então o “Plano de Metas”, que era composto por trinta e um objetivos, subdivididos em seis grupos: energia, transportes, educação, alimentação, industria de base; o sexto grupo é destinado à construção de Brasília. O governo de Juscelino entendia que atrelado à industrialização deveriam acompanhar outras áreas da sociedade, que posteriormente eram as que sustentariam a industria, por se tornarem mercado de consumo. É o que justifica investimentos nos “grupos” alimentação e educação, já prevendo de antemão um acumulo populacional nas áreas de indústria. O Plano de Metas aborda elementos necessários à implantação e posterior sustentação da indústria. Neste sentido, o desenvolvimento nacional ultrapassa seu condicionador industrial e assume uma dimensão maior, que abrange a toda uma sociedade, de caráter industrial.
Partindo desta política desenvolvimentista, imposta por Juscelino, é que surge a idealização e construção de uma rodovia que liga a malha rodoviária da parte central da região sudeste, a outras do país. É com esta função que Rodovia Fernão Dias é construída. Ligando a capital mineira à capital paulista, proporciona-se a comunicação com outras vias, maiores ou menores, ampliando a ação da malha rodoviária nacional. A primeira etapa da rodovia foi concluída em 1959, ligando Belo Horizonte à cidade de Extrema, sul de Minas, divisa com o estado de São Paulo. Na ocasião da inauguração deste trecho, fora construído um monumento que simbolizava a parte mineira da obra. Para o descerramento da placa do monumento, Juscelino veio pessoalmente, à cidade de Betim (local escolhido para a construção do monumento e da edificação da polícia federal), para faze-lo. O trecho foi inaugurado com extensão de 485 quilômetros e um dos engenheiros responsáveis por sua realização foi Edmundo Regis Bittencourt. Próximo ao monumento, também era inaugurado uma edificação destinada a servir de posto de fiscalização para a Polícia Rodoviária Federal (que em Betim é popularmente conhecido como “barreira”). Dessa forma, o monumento e a edificação da polícia federal, formam um entorno alusivo ao evento da inauguração do trecho da rodovia em Minas.
Todavia, o estudo e pesquisa sobre este entorno são remetidos a uma temática que diz respeito ao desenvolvimento nacional. Paralelo a isso se tem a leitura de que tanto o entorno, como a própria Fernão Dias, são marcas de uma personalidade que é parte da história do país, o presidente Juscelino Kubitscheck.

A Rodovia Fernão Dias e o Desenvolvimento Histórico de Betim: décadas de 1950 e 1960.
A condição de Betim nos anos de 1950 está diretamente ligada ao caráter agropecuário. Esta condição remonta a períodos anteriores à história local, em que atividade agropastorial veio evoluindo e se firmando como economia de sustentação. Todavia, a partir da década de 1960, a cidade sofre uma inversão de importâncias, em que a atividade industrial assume a primazia na pauta de seu desenvolvimento. O que se constata é que a Rodovia Fernão Dias é um elemento fundamental para esta mudança de rumo desenvolvimentista de Betim, considerando toda uma conjuntura nacional, mencionada no texto anterior. A partir do ano de 1960, Betim assiste ao início do declínio das atividades agropecuárias e a ascensão e afirmação das atividades industriais.
A década de 1950 tem como principal base econômica a agropecuária, base esta que acompanha não apenas Betim mas todo o interior de Minas Gerais, desde o século XVIII. Tal afirmação pode ser confirmada através do elevado número de fazendas que, por tradição, têm a finalidade produtiva e não, meramente, para o lazer (fazendo uma analogia ao uso de muitas fazendas em Betim no momento). Inerente à economia agropastoril, está uma sociedade que a acompanha, em que se conclui que a maior parte da população betinense está na zona rural. Um dado importante corrobora para esta afirmação: a década de 1970 tem cerca de 20.300 habitantes vivendo no campo e aproximadamente 17.600 habitantes em zona urbana[7]. É necessário considerar, ainda no contexto da década de 1950, uso das estradas: Betim possui vias que a liga a cidades da região do Vale do Paraopeba, e à região que envolve Belo Horizonte, ou seja, tem-se uma malha viária voltada para uma dinâmica regionalizada, vinculada à atividade agropecuária. É válido observar que muitas, senão todas, estradas passam por grandes e pequenas propriedades fazendárias, facilitando o escoamento e intercâmbio de mercadorias deste gênero. Vários são os vilarejos que se formam nestas estradas, situados entre as cidades maiores, como exemplos: entre Betim e Esmeraldas tem-se Vianópolis, Marimba, Tropeiros, Farofas, Pimentas[8] etc. Vários são os fatores que contribuem para a composição desta sociedade agrária betinense no período em questão, desde a atividade no campo em si até ao surgimento dos “povoados” nas estradas de ligação. Neste sentido pode se analisar que a demografia de Betim se inverte a partir de meados da década de 1970, com a implantação do complexo industrial ligado a FIAT Automóveis, em que todos os investimentos estão voltados para o desenvolvimento da indústria no cenário nacional.
A evolução industrial de Betim se inicia no primeiro quartel do século XX, quando se tem a construção da Estrada de Ferro Oeste de Minas, que liga Belo Horizonte à Divinópolis (na época Henrique Galvão) e em 1914 a inauguração de uma usina geradora de energia elétrica para a cidade[9], instalada às margens do rio Betim (antigo Riacho Cachoeira). Tanto a estrada de ferro como a usina hidrelétrica são fatores de desenvolvimento industrial. Contudo, ainda sim, o caráter agrário da cidade ainda era marcante, ou seja, tem-se a atividade agropecuária e a industrial, porém, a primeira tem hegemonia sobre a segunda. O ponto inicial dessa mudança hegemônica ocorre com a construção da Rodovia Fernão Dias. Isso significa dizer que, efetivamente, a sociedade industrial de Betim, em contraponto à sociedade agrária, inicia sua configuração a partir da década de 1960. Este fato ocorre não apenas em Betim mas em todo o Brasil, mediante ao projeto do Presidente Juscelino Kubistcheck, de “modernização” nacional. Trata-se de um projeto, genericamente, que abandona políticas econômicas regionalizadas (caso de Betim na década de 1950) e se orienta em função de uma “estado integrado” e coeso. Dessa forma, industria, energia e transportes são os eixos norteadores do governo JK, fundamentais para sucesso deste projeto. As políticas econômicas regionais perdem valor perante a nova ordem instalada e, tendencialmente, assumem posição secundária na pauta econômica nacional.
A Rodovia Fernão Dias assume então significativa importância pois integra a região central de Minas ao sul do país, ligando Belo Horizonte a São Paulo; ao norte e nordeste através de sua ligação com as BRs 116 e 262. Em Betim a Rodovia propicia o surgimento de uma nova dinâmica social e econômica, assentadas na euforia da inserção betinense no cenário nacional. Toda a industria local se volta para o escoamento e intercâmbio com São Paulo. Novas industrias de pequeno porte se instalam, almejando novos mercados com a tendência de aumento populacional gerado com a Rodovia. A população agrária promove uma migração lenta e contínua para a região urbana: se na década de 1970 a população urbana girava em torno de 20.300 e a rural em torno de 17.600, na década de 1980 esta situação se inverte sendo que a urbana conta com cerca de 76.900 habitantes e a rural com 7.400 habitantes. Os dados da década de 1980 demonstram que não apenas população rural betinense migra para a cidade como também este número populacional aumenta consideravelmente, ou seja, a migração não ocorre apenas internamente mas também de áreas externas à cidade e consideravelmente, de outras regiões do país. A primeira grande indústria implantada ás margens da Rodovia Fernão Dias, foi a Refinaria Gabriel Passos, que tem suas obras iniciadas em 1964 e sua inauguração em 1968. Durante toda a década de 1960, a Rodovia passa por uma pavimentação em asfalto, o que demanda um certo número de empregados na obra que se alonga por toda extensão do município. No centro da cidade existiu, neste período, um pátio e um escritório do D.N.E.R., que controlava as obras de pavimentação do trecho da região do Vale do Paraopeba de Betim. A década seguinte assiste a instalação do Parque Industrial de Betim, também às margens da Rodovia, vinculado á FIAT Automóveis, que inicia seu funcionamento em 1976. O fato é que a construção da Rodovia atendeu a uma das condições básicas para a industrialização que diz respeito à “infra-estrutura”; que neste caso, possibilita o escoamento dos gêneros industrializados à regiões de consumo num âmbito nacional.
A Rodovia Fernão Dias, é para Betim, o marco definitivo que inicia a transformação do caráter agrário para o industrial. Ao mesmo tempo que modifica a dinâmica econômica e social da cidade, promovendo a migração interna e externa, inserindo-a num circuito industrial nacional. Betim abandona toda uma cultura regionalizada, constituída desde o século XVIII, e assume uma cultura urbanizada, integrada com o restante do país. Em resumo, a Rodovia Fernão Dias é efetivamente o marco betinense entre o “agrarismo” e a industrialização e tem isso simbolizado no Posto da Polícia Rodoviária Federal e no monumento de inauguração da Rodovia Fernão Dias, ambas construções inauguradas em 1959.

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