Instituto Histórico IMPHIC - Betim

"Sapire ut protego, Protego ut conservo"

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Localização: Praça do Rosário, s/nº, Bairro Angola – Betim – MG

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::Histórico da Igreja Nossa Senhora do Rosário::
Irmandades foram associações religiosas realizadas por negros durante o período colonial e que, segundo Scarano, citado por Carvalho, tornaram-se no único meio que permitia ao negro, como um grupo organizado, ombrear com os demais habitantes da colônia. (Carvalho: 1986-1991, 321).
Para um outro autor, Bastide, as confrarias serviram de ponto de concentração de reivindicações sociais (Bastide: 1971, 166). Ainda para o mesmo autor, nas confrarias, os negros se reuniam em torno de um santo de cor, mas, em realidade, segundo meu entendimento, a tendência mais freqüente era em torno de Nossa Senhora do Rosário, donde a construção de igrejas onde os fiéis pudessem cultuar a santa e realizar anualmente a Festa para a mesma.
As datas em torno da emergência das irmandades e das festas de Nossa Senhora do Rosário não são conhecidas com precisão. Mas, em 1711, Antonil refere-se às festas de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário nas capelas dos engenhos (Bastide: 1971, 163).
Em Minas, o surgimento das Irmandades Religiosas de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia apontam para uma origem desde 1704 na Vila do Serro; 1708 em São João d’El Rei e 1711 em Vila Rica, hoje Ouro Preto (Silva: s/d, 1). Outro ponto de referência é Diamantina. Estes locais, no século XVIII, eram os principais centros econômicos do país devido a exploração do ouro e do diamante.
Betim, antiga Capela Nova, pela sua localização geográfica é, num primeiro momento de sua história, uma área de passagem entre a região de mineração do Rio das Velhas (Sabará, Caeté...) e as Minas de Pitangui (Mendonça & Modesto: 1996, 1).
Através de uma provisão episcopal de 9 de novembro de 1754, é erigida uma Capela na Bandeirinha do Rio Paraopeba (Fonseca: 1975, 152), que servirá ao culto do catolicismo na cidade que se forma.
Em relação à religiosidade negra, a primeira referência da existência da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Arraial de Betim data de 1814, em documento encontrado no Arquivo Nacional, onde solicita-se à sua Alteza Real provisão para ereção de uma Capela para Nossa Senhora do Rosário, dizendo ainda o documento que se desejava prosseguir na arrecadação de fundos e donativos para a sua construção.
Manoel Antônio Carvalho, falecido em 10 de outubro de 1828, deixa em seu testamento uma esmola de trinta mil réis, para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário que se pretende fazer.
Eu Manoel Antônio de Carvalho, estando em meu perfeito juízo [...] deixo de esmola para a Igreja da Senhora do Rosário da Capela Nova do Betim que se pretende fazer, trinta mil reis.
Em 23 de setembro de 1851, através da Lei no 522, o Curato da Capela Nova de Betim é elevado à categoria de paróquia e passa a pertencer ao município de Sabará (Fonseca: 1975, 157).
Em 1856, o Frei Francisco Coriolano Otrante, missionário capuchinho, inicia, entre os bons fiéis, uma subscrição para a construção da Matriz (Fonseca: 1975, 158).
Em 1861, devido a dificuldades para a continuidade das obras de construção da Matriz, o Padre Casimiro Moreira Barbosa recomenda ao Bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, em visita pastoral à paroquia, utilizar o dinheiro da Irmandade Nossa Senhora do Rosário, sob a alegação de que a mesma estava em decadência por falta dos devotos pretinhos e, também, dadas às dificuldades de se levar adiante a construção da Capela do Rosário, que, neste momento, já teria perdido grande madeiramento, carretos e despesas, sendo atendido em despacho favorável.
A esta época, havia uma imagem de Nossa Senhora do Rosário que era venerada pelos pretos, mas que se achava entronizada na matriz de Nossa Senhora do Carmo, Igreja dos brancos, dos senhores, constituindo empecilho às suas preces e oferendas, segundo Geraldo Fonseca (Fonseca: 1975, 162).
Em 1894, inicia-se a construção da Capela de Nossa Senhora do Rosário, através de despesa realizada pelo Vigário Domingos Cândido da Silveira, na qualidade de Presidente da Mesa de Nossa Senhora do Rosário (Fonseca: 1975, 164).
Em fevereiro de 1897, a capela recebia a vidraçaria e nela já se celebravam os atos religiosos (Fonseca: 1975, 164).
Os congadeiros da atualidade e pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário contam que, na construção da Igreja, trabalharam Joaquim Nicolau e o seu pai.
Joaquim Nicolau e João Belarmino trabalharam na construção da Igreja carregando pedra. Hoje, depois de reformada, ela está como era antigamente. Deste jeitinho mesmo.
(Cap. Raimundinho da Guarda de Congo da Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Betim)
Joaquim Nicolau é o ancestral de referência para a história recente do Congado da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Betim. Quando solteiro, fundou o reinado em Vianópolis. Era o seu Capitão Mor quando mudou para Betim onde levantou, em 1954, o reinado que esteve parado quarenta e cinco anos devido a morte do seu antigo capitão (Mendonça: 1996, 9).
Atualmente, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Betim é composta de seis guardas do congado, sendo uma tradição da cidade, com a qual sua história se mistura. Para os congadeiros, o Congado deve ser encarado como religião e não como folclore sendo este sentimento reforçado pelos diferentes ritos que cercam a manifestação religiosa e que são seguidos de maneira rigorosa pelos membros da Irmandade. Cada guarda tem um estilo, mas todos estão relacionados com as tradições negras conservadas pela memória coletiva dos grupos afro-brasileiros (Modesto & Mendonça: 1995, 18).
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga de Betim, é ainda o local onde anualmente acontece a Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário entre os meses de agosto a outubro, sendo um referencial para uma parte do segmento negro e não negro de Betim, uma vez que o culto é aberto a todas as etnias.
Houve uma época em que esteve ameaçada de ser destruída, mas graças a uma mobilização da comunidade, encabeçada pelos congadeiros, teve a sua demolição impedida, o que, infelizmente, não aconteceu com a matriz de Nossa Senhora do Carmo (Modesto & Mendonça: 1995, 9).
Segundo levantamento do acervo cultural de Minas Gerais, realizado pelo IEPHA em 1984, temos a seguinte descrição da Igreja de Nossa Senhora do Rosário:
Situa-se em uma colina, em praça com cruzeiro. O partido é retangular com nave central, de pé-direito mais alto, naves laterais e sacristia posterior que se trata de acréscimo recente em alvenaria de tijolo.
Em estrutura autônoma de madeira e vedação em adobe recebe cobertura em telhas curvas com beirais em cachorrada. O frontispício mostra três portais sendo o central encimado por duas janelas com balaustrada interna, interessante óculo e cruzeiro de madeira encimando a cumeeira. Os vãos possuem enquadramento de madeira, folhas em calha ou em caixilhos de vidro. A sineira lateral, sem o sino, apresenta madeiraime em estado precário.
A nave principal apresenta forro alteado em tabuado liso. Para acesso ao altar existe supedâneo em madeira limitado por cancelos laterais em balaustrada de madeira torneada. As naves laterais possuem piso em tabuado corrido, não são forradas e apresentam janelas com verga alteadas. A recente sacristia mostra piso em cimento natado com corante verde, dois basculantes e não recebe forro.
Em 1996, é novamente restaurada pela Fundação Artístico Cultural de Betim, que também fez a doação de um terreno para a construção da sede da Irmandade, uma vez que as reuniões são realizadas na Igreja por falta de um espaço próprio.
:: Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos ::
O processo de construção da Capela Nossa Senhora do Rosário foi longo, iniciou-se em 1814 com uma carta de pedido para a sua construção, emitida pela Irmandade do Rosário, naquele ano. A construção começou em 1894, com término em 1896, quando se registra a colocação da vidraçaria.
No final da década de 1960, a capela correu o risco de ser demolida pela Prefeitura da época. A Irmandade do Rosário evitou essa ação, através de uma mobilização social. Entre 1983 e 84, a Capela passou por uma restauração.
Em 1997, ela é tombada como Patrimônio Histórico e Cultural, pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Betim, através da Lei Municipal 2944/96, que trata de proteção e preservação do patrimônio cultural de Betim. A capela é principal local das manifestações religiosas e sociais da cidade.
A Capela do Rosário foi construída no bairro Angola, para a guarda permanente de sua Santa, e preservação de suas origens. Hoje, grupos de congados lá se reúnem nos meses de agosto e setembro num ritual de beleza, devoção e alegria, marcado pelo respeito à tradição. A capela Nossa Senhora do Rosário, com suas peças de arte estilo barroco e neoclássico, é uma das relíquias de Betim.
Descrição e Análise do Bem Cultural
A Capela de Nossa Senhora do Rosário é um dos únicos exemplares da arquitetura do século XIX em Betim. Embora haja registros de pedidos de sua ereção por parte da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário desde o início daquele século, vai ser apenas em 1894 que suas obras são iniciadas. Segundo relatório do IEPHA, essa demora provavelmente se deveria à pobreza da Irmandade responsável pela construção. As obras terminam em 1897, tornando-se a Capela de Nossa Senhora do Rosário desde então o centro de devoção dos negros em Betim, que ali se reuniam não apenas para missas mas para festas como a de Nossa Senhora do Rosário (agosto) e do congado (setembro).
O entorno
Situada em ponto elevado de uma colina, a Capela de Nossa Senhora do Rosário encontra-se em posição de grande visibilidade e destaque no centro de Betim. Assim, por exemplo, é visível a partir do trecho final da alameda Maria Turíbia de Jesus. A sua implantação se faz de forma dominante num amplo platô, configurando um adro retangular de generosas proporções, tendo à frente a declividade natural, em espaço ajardinado, a Praça Nossa Senhora do Rosário, onde se encontra o “Marco Comemorativo do Cinquentenário” da emancipação do município.
O acesso se faz através de escada que liga a praça ao adro e através das ruas Gomes e Boaventura A. Gomes, cujas rampas em aclive se encontram no mesmo plano que recebe o adro da igreja. Em posição proeminente no adro situa-se o cruzeiro em madeira.. O mastro da Festa do congado é erguido em épocas de comemoração.
O entorno imediato da Praça Nossa Senhora do Rosário é ocupada por edificações de um pavimento em sua maioria, e de uso predominantemente residencial. Nas imediações da Igreja de São Francisco concentram-se edificações de 2 ou 3 pavimetnos de uso misto (residencial e comercial) e comercial. Ali, na Praça fronteira à Igreja de São Francisco encontra-se a única área sombreada da região), apresentando árvores de grande e médio porte.
A pavimentação das vias e passeios apresenta-se em estado de conservação regular, necessitando reparos em alguns trechos e obras de complementação e melhorias físicas (passeio não pavimentado no trecho da rua Gomes e Avenida Bias Fortes, paralela ao rio Betim, cujas margens apresentam-se sem tratamento paisagístico.)
Devido à sua situação em plano elevado e à volumetria bastante horizontalizada do entorno, o adro da Igreja Nossa Senhora do Rosário apresenta-se ocmo excelente ponto de observação, de onde se pode perceber o movimento descendente-ascendente das colinas urbanizadas desse trecho de Betim.
A edificação
A edificação caracteriza-se em termos construtivos, por uma estrutura autônoma de madeira e vedação de adobe, com a cobertura em telhas do tipo “calha e bica”, com beirais em cachorrada. (Fotos 28, 30 e 31) O frontispíco apresenta três portas (Foto 22), sendo que o portal central é encimado por duas janelas de verga alteada e com balaustrada interna. (Fotos 22, 28, 38), e, entre elas, destaca-se um óculo em madeira (Foto 28). Sobre a cumeiira, vê-se um cruzeiro, também em madeira (Fotos 22 e 23). Os vãos apresentam enquadramento e folhas em madeira, com vergas alteadas; as aberturas superiores são resolvidas através da caixilharia em madeira e vidro (Fotos 22, 23, 24, 25, 28 e 36). A estrutura sineira lateral apresenta-se recoberta em telhas tipo “calha e bica”.
A nave principal apresenta forro em tabuado liso (Fotos 36 e 37). As naves laterais têm o piso em tabuado corrido, janelas com verga alteada (Fotos 24, 25 e 26). Para acesso ao altar, nota-se a existência de um supedâneo em madeira, limitado por cancelas laterias me balaustradas em madeira torneada.
A capela é construída sobre porão alteado, cuja ventilação se faz através de rasgos horizontais na faixa do baldrame. (Fotos 25 a 27) Ligeiramente elevada em relação ao plano do adro, o acesso à capela faz-se por escadas com degraus em laje de pedra (Fotos 29 a 31). A empena cega dos fundos corresponde à sacristia interiormente, acréscimo recente em alvenaria de tijolos. (Foto 31)
O altar e os nichos do retábulo são enquadrados e emoldurados através de perfis salientes em madeira.
A nave principal apresenta forro alteado em tabuado liso. Para acesso ao altar existe supedâneo em madeira limitado por cancelos laterais em balaustrada de madeira torneada. As naves laterais possuem piso em tabuado corrido, não são forradas e apresentam jaenlas com verga alteada. A recente sacristia mostra piso em cimento natado com corante verde, dois basculantes e não recebe forro, seu estado de conservação é regular.

TESTAMENTO EM QUE FALECEU MANOEL ANTONIO DE CARVALHO AOS DEZ DE SETEMBRO DE 1828.
Em Manoel Antonio de Carvalho estando em meu perfeito juízo e entendimento [...] meu testamento na forma seguinte [...] sou Católico Romano, professo a Lei de Jesus Cristo, nascido e batizado a Freguesia de Curral d’El Rei, filho legítimo de José Antônio de Carvalho e de Domingas Gonçalves de Sousa [...] Deixo de esmola para a Igreja da Senhora do Rosário de Capela Nova do Beti, que se pretende fazer trinta mil réis. p. 99 v.

DESPACHO DO EX.MO. BISPO DIOCESANO D. ANTONIO FERREIRA VIÇOSO, DA PETIÇÃO QUE ABAIXO VAI TRANSCRITA, FEITA PELO REV.DO. VIGÁRIO CASIMIRO MOREIRA BARBOZA.
Para satisfazer ao que se manda na Constituição do Bispado,. deve a cruz ter [...] de pedra; construída a qual, se gastem as esmolas da cruz na obra da Igreja. Os dinheiros que há da Irmandade do Rosário, ataviando-se o Altar de N. Senhora de tal invocação, com os ornamentos necessários, se despenda o resto na mesma obra, de que faz parte o dito Altar. Betim aos 9 de setembro de 1861.
Antônio Bispo de Mariana.

Diz o padre Casimiro Moreira Barbosa, vigário encomendado desta Freguesia, que desejando ardentemente a conclusão da obra começada na Matriz, a qual não se poderá finalizar por falta de recursos, lembrou-se de um meio, que se não surtir o desejado efeito ao menos levará a obra a um estado satisfatório, e a porá salvo dos deterioramentos; que ordinariamente sofrem as obras começadas e não acabadas, e vem a ser a aplicação dos dinheiros que os fiéis dão ao Cruzeiro, e o da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, cujo compromisso é a maior honra e glória de Deus. Fala-se, Ex.mo. Senhor, na criação de duas capelinhas, uma do Rosário e outra Monte a Santa Helena; mas o suplicante tem a sorte desgraçada de templos sem patrimônio; a Irmandade está em decadência por falta dos devotos pretinhos, o rendimento da Cruz é contingente e ninguém poderia se encarregar da conservação daquelas duas capelas que já tem perdido grande madeiramento, carretos e despesas, cujos furtos tem sido inevitáveis prejuízos.
Pede a V. Ex.ma. se digne permitir que se faça a aplicação daqueles dinheiros a Matriz, onde a Senhora tem um altar, e se poderá venerar a Santa Cruz
::Histórico da Irmandade Nossa Senhora do Rosário::
A Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Betim, tem suas origens em 1711, quando Betim ainda era Distrito de Capela Nova.
Desde os tempos das capitanias, dezenas de capelas abrigavam a imagem de Nossa Senhora do Rosário e seus devotos, cidadãos de cor. As raízes dos congadeiros de Betim estão nas famílias de Sr. Joaquim Nicolau, que deram continuidade, formando a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora Aparecida.
A partir de 1861 cresceram em número os congadeiros que mais vezes passaram a homenagear suas protetoras. Em Maio dançam em homenagem à Princesa Isabel. Em agosto e setembro em honra á Senhora do Rosário.
As Comemorações do dia de Nossa Senhora do Rosário em Betim inicia-se no mês de agosto. No início do mês acontece, o levantamento da Bandeira de Aviso. No dia 21 de agosto, a novena com reza de terço em louvor de Nossa Senhora do Rosário.
Dia 28 de agosto, o levantamento das Bandeiras de São Benedito, de Santa Efigênia, de São Sebastião, de Nossa Senhora do Rosário, de São João Bosco e de Nossa Senhora da Aparecida. Dia 30 de agosto, o cumprimento de promessas, coroação de Reis, Rainhas, Barões, Baronesas e devotos de Nossa Senhora de Rosário.
A Irmandade é composta por 06 grupos de congadeiros, sendo a Guarda Moçambique com o Capitão José Teodoro, a Guarda de Congo São Benedito, com a primeira Capitã Sr.ª Geralda, a Guarda de Moçambique com a primeira Capitã Sr.ª Maria Isidora Nanini, a Guarda de Marujo São João Bosco, com a Rainha Conga Sr.ª Alzira dos Santos, Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário, primeiro Capitão Sr. Dalmo de Assis, a Guarda de Congo com o primeiro Capitão Sr. Raimundo.
A disciplina e a obediência aos rituais são rígidas. Os participantes têm que se vestirem a caráter, respeitarem as hierarquias e serem fervorosos.
Somente no ano de 1894, concretizou-se o sonho dos devotos da Senhora do Rosário em ter um lugar para a guarda permanente da imagem da Santa. Muitos não puderam contemplar a tamanha elegância que, hoje, abriga no coração da cidade, a Capela do Rosário no bairro Angola.
Atualmente, a participação do branco já é permitida, mas , no passado, somente os negros podiam fazer parte dos rituais e havia uma abstinência sexual por parte de todo os componentes da Irmandade. Vem sendo desenvolvido um trabalho de conscientização do negro, visando buscar suas origens, costumes, hábitos, valores culturais, e a sua cidadania, através de cursos, palestras e eventos religiosos e culturais.
A Irmandade do Rosário, Santa Efigenia, São Benedito e Nossa Senhora a Aparecida é reconhecida como utilidade pública do Município de Betim, com uma diretoria que se reúne mensalmente, sendo a mesma registrada em cartório.
As Irmandades contam com o apoio da Prefeitura Municipal e tem total apoio da Fundação Artístico-Cultural de Betim, que tem o compromisso de apoiar e resgatar o folclore do município, com todas as suas expressões culturais.
::Festa de Nossa Senhora do Rosário::
A Festa, que sempre reúne mais de 1500 pessoas, homenageia a santa protetora dos negros, Nossa Senhora do Rosário. A festa é organizada sobre a cultura africana e ao som das guardas de congado a procissão percorreu todo o centro de Betim. A história da santa se divide entre os fieis. Para os integrantes do congado, a santa veio do mar atendendo aos pedidos dos escravos, que a levaram para a igreja. Mas o Frei Patrício, da igreja Católica, explica que a devoção à santa surgiu na idade média, quando o exército cristão atribuiu à Nossa Senhora do Rosário a vitória sobre a expansão dos maometanos.
O Congado é uma forma de manifestação cultural antiga, em que os negros dançam e tocam em homenagem à Nossa Sra. Do Rosário. Ele está diretamente ligado à Irmandade do Rosário. Todo "congadeiro" é portanto membro da irmandade.
O Congado em Betim surgiu no século XIX, quando foi registrado oficialmente, a existência da Irmandade do Rosário, de acordo carta de pedido para construção da Capela do Rosário. A Festa do Congado ou Festa do Rosário ocorre no período de meados de agosto (quando acontece levantamento de mastros e bandeiras) até o início de setembro, quando ocorre a procissão.

Referências Bibliográficas:
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• BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas I. Magia e Técnica, Arte e Política. Brasiliense: São Paulo, 1986.
• BOSI, Alfredo. “Cultura como tradição”. In: FUNARTE. Tradição e Contradição na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro, FUNARTE/MEC, 1985.
• BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças de Velhos. EDUSP: São Paulo, 1987.
• CARTA DE OURO PRETO. Ouro Preto, 1992 (mimeografado).
• CARVALHO, José Geraldo Vidigal. “Espaços Abertos pelas Irmandades”, Em: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Vol. XXI, 1986-1991, p. 321.
• CHAUÍ, Marilena. "Política Cultural, Cultura Política e Patrimônio Histórico". In: O Direito à Memória. Patrimônio Histórico e Cidadania/DPH. São Paulo, DPH, 1992.
• Fonseca, Geraldo. A Nova Força de Minas. Betim, sua História: 1911/1975. Betim, 1975.
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• Halbwachs, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
• LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Editorial Universitária de Buenos Aires: Buenos Aires, 1970.
• MAGALHÃES, Aloísio. “Bens Culturais: instrumento para um desenvolvimento harmonioso”. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, nº 20 / 1984.
• MENDONÇA, Cleonice Pitangui. Rosário de Nossa Senhora em Betim. FUNARBE-NEAD-UFMG, Datilo. 1996.
• MENDONÇA, C.P. & MODESTO, A.L. Museu da Cidade. Datilo., 1997. p. 1.
• ______________________. Levantamento Cultural de Betim, Relatório da Fase Preliminar. FUNARBE-NEAD-UFMG, 1995.
• PORTOGHESI, Paolo. Depois da Arquitetura Moderna. Martins Fontes: São Paulo, 1982.
• SANTOS, Carlos Nelson F. dos. "Preservar não é tombar, renovar não é por tudo abaixo". Revista Projeto, n. 86, Abril, 86.
• SEGRE, Roberto. "Havana: O resgate social da memória". In: O Direito à Memória. Patrimônio Histórico e Cidadania. São Paulo: DPH, 1992.
• SILVA, Rubens Alves. O Congado como Manifestação Religiosa, I Congresso Internacional de Cultura e Literatura Ibero-Americana. Datilo., s/d.
• VASCONCELOS, Sylvio de. Arquitetura no Brasil: Sistemas Construtivos. Belo Horizonte: Rona Editora, 1979. (5a. edição)
(fonte: Funarbe)

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