Instituto Histórico IMPHIC - Betim

"Sapire ut protego, Protego ut conservo"


DESCRIÇÃO DETALHADA E PRÉ-ANÁLISE DA IMAGEM TOMBADA
(Versão completa desse material disponível para pesquisa na sede do IMPHIC para membros efetivos do Instituto ou por solicitação de um deles)

Para saber mais da origem do Reinado do Rosário clique aqui

A Imagem de Nossa Senhora do Rosário apresenta características iconográficas referentes à maioria das invocações modernas da virgem Maria. Diferentemente das invocações mais antigas em que a virgem apresenta-se assentada tendo ao seu colo o Menino Jesus, a imagem em questão representa Nossa Senhora de pé com o Menino Jesus acomodado em seu braço esquerdo sobre um manto branco. Conserva, contudo, aspectos gerais referentes à representação de Nossa Senhora tais como as vestes longas cobertas por um manto que revestem até os pés o corpo da santa em contraste com a nudez do pequeno Jesus além da presença de querubins aos seus pés.

Confeccionada em madeira maciça apresentando 24 cm de largura por 65 cm de altura, a imagem compõe-se de 2 peças confeccionadas em madeira e equivalentes a Nossa Senhora e ao menino Jesus que leva nos braços. Há vestígio de elementos colados. Jesus (com 7cm de largura por 17 cm de altura) encaixa-se sobre parafuso em metal cravado sobre o braço esquerdo da santa. Sobre sua cabeça, através de um furo, a auréola ou a coroa encontra apoio para fixar-se.

De olhos castanhos, de vidro, traços faciais arredondados e queixo paralelo ao solo, com carnação tipo “porcelana”, Nossa Senhora demonstra douçura no olhar aparentando fixar-se de modo confiante no horizonte. O nariz e a boca revelam traços muito delicados e pinturas que não extrapolam os limites determinados pelo entalhamento. Os cabelos, em tom castanho, são compridos, ondulados e envoltos em Véu com esgrafiado, na cor branca com motivos florais e borda em douramento.


No que se refere às vestes de Nossa Senhora verifica-se significativa riqueza de detalhes e policromia. A longa túnica que cobre todo o corpo da santa deixando os pés totalmente cobertos possui esgrafiado ricamente ornamentado com motivos florais; a parte interna da túnica é em cor verde, esgrafiada, a pelerine próxima ao pescoço apresenta-se na cor verde, também em esgrafiado, ornamentada por uma espécie de broche floral. O acabamento da borda da túnica, na parte de baixo, apresenta fina ornamentação em pastiglio, com motivos florais e pequenos botões que avançam sobre a parte inferior da túnica com acabamento em douramento

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Estes elementos possuem formas diversas e aparentemente livres de qualquer simbologia específica destinando-se tão somente à decoração da roupa. O cuidado no entalhe e na pintura é revelado ainda pelo movimento impresso na confecção da túnica que apresenta ondulações que remetem ao caimento natural do tecido oferecendo leveza à peça maciça.
Sobre a túnica de Nossa Senhora, sobrepõe-se um manto trabalhado de modo semelhante à primeira parte das vestes em termos de técnica de escultura. As nuances de seu acabamento apresentam, contudo, tonalidades diversas que variam conforme a face interior ou exterior do tecido. Douramento de reserva na parte externa do manto, a borda em douramento, onde na parte de trás junto à borda aparece motivos florais diferenciados, o manto é azul.

Externamente verifica-se tonalidade de fundo predominantemente azul mais escuro à qual são aplicados elementos em tons dourados. Na face interna, predomina Douramento na parte interna do manto com rico trabalho de esgrafiado em motivos florais, na cor a cor azul clara sobre a qual também são aplicados elementos dourados de formas livres.


Sob os pés da Imagem esta uma nuvem trabalhada com folha de prata e esgrafiado em linhas concêntricas, onde encontram-se cinco querubins de proporções e características físicas semelhantes, três posicionados acima frontal, sendo que dois deles, nas laterais, estão mais recuados e dois abaixo em posição diagonal e com semblantes semelhantes. Estes anjos apresentam carnação em fatura fina, com elaborada “porcelanização” e tonalidade rosada na face, testa e junto aos cabelos Todos possuem cabelos castanhos mais claros que o de Nossa Senhora, olhos azuis, além de traços arredondados como os da virgem. Considerados seres alados como todos os anjos, os querubins representados apresentam asas em douramento sem trabalho de esgrafiado.


O menino Jesus que a virgem traz em seus braços possui características semelhantes à dela própria apresentando cabelos castanhos, pele clara e olhos castanhosos dois braços encontram-se abertos para receber o rosário. A peça não possui vestes exceto o tecido branco com detalhes dourados semelhantes ao tecido que envolve a cabeça de Nossa Senhora e que encontra-se sobre o braço da virgem como que preparado para envolver a criança, esse tecido é branco com esgrafiados, com motivos florais e borda em douramento.


A imagem assenta-se sobre uma peanha escalonada, simples na cor vinho de formato retangular e recortado de apenas na parte frontal, possui dimensões de 20 cm de comprimento por 12 cm de largura. Seu acabamento é realizado em pintura na cor vinho aplicada de modo marmorizado em toda sua extensão oferecendo interessante contraste com a policromia do restante da peça.


PARECER PARA O TOMBAMENTO DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
As características simbólicas e iconográficas correspondentes à Imagem de Nossa Senhora do Rosário demonstram ser esta uma peça de grande valor histórico não apenas para a comunidade Betinense como também para a região onde se encontra e talvez para todo o Estado de Minas Gerais.

Entalhada em madeira maciça policromada com esmero e grande apuro técnico, a Imagem em questão revela não apenas a maestria de seu desconhecido artífice como constitui-se parte fundamental da história de um período de grande relevância para toda Minas Gerais.
Apesar da carência de registros que permitam atribuir a autoria da peça a um artífice específico, suas características iconográficas somada ao movimento Barroco que se desenvolvia tardiamente por todo o território reforçam a importância de sua preservação. Além disso, informações orais revelam sua importância perpetuada ao longo do tempo pela comunidade local sendo preservada até a atualidade.

A Imagem apresenta também características iconográficas referentes à maioria das invocações modernas da virgem Maria. Diferentemente das invocações mais antigas em que a virgem apresenta-se assentada tendo ao seu colo o Menino Jesus, a peça em questão representa Nossa Senhora de pé com o Menino Jesus acomodado em seu braço esquerdo sobre um manto branco. Conserva, porém, simultaneamente, aspectos gerais referentes à representação de Nossa Senhora tais como as vestes longas cobertas por um manto que juntos revestem até os pés o corpo da santa em contraste com a nudez do pequeno Jesus. Constitui-se assim como um elemento possivelmente de transição entre uma cultura conservadora e a chegada da modernidade no país muito bem representada pela arte encontrada em Minas Gerais à época, sobretudo, na região das Vilas do Ouro.

Por tais razões indicou-se o Tombamento da Imagem de Nossa Senhora do Rosário de modo que tal reconhecimento legal possa se unir às iniciativas de conservação da peça que vem sendo tomadas pela comunidade local desde 1998 com o tombamento da Capela que a abrigava e sua retirada do altar-mor e armazenamento em sala da Casa da Cultura onde, sob os olhos atentos do Departamento de Patrimônio Histórico, deve permanecer guardada de luz excessiva, umidade e ataque de insetos além de eventuais furtos.


Colaboração/Agradecimentos:
Elizier Borgesa Marcelino/Thais Gomes Braga/Roberto

Não há documentos sobre a primeira imagem da Santa existente na cidade, porém, acredita-se que a primeira capela atribuída a Nossa Senhora do Rosário teria tido uma imagem mais tosca, produzida sem os recursos técnicos do século XIX. A imagem de Nossa Senhora do Rosário entalhada em madeira maciça e policromada, atualmente guardada pela Fundação Artístico-Cultural de Betim, remonta à ocasião de instalação da Capela (1897). Embora não haja registros acerca de seu autor ou procedência, verifica-se através dos detalhes apurados e delicadeza do entalhe e policromia que tal peça pode ter sido produzida por artífices de Ouro Preto, uma vez que o antigo arraial era local de passagem de viajantes para outros municípios localizados nas proximidades das Vilas do Ouro ou até mesmo artífices estrangeiros, fato corriqueiro na época.

Neste sentido, a continuidade histórica de desenvolvimento do município demonstra que era comum a atuação de mestres vindos de regiões longínquas bem como a absorção de outras culturas, o que pode ser comprovado na segunda metade do século XIX quando o culto à Santa em questão assumira aspectos particulares de um estilo mais Art-decó.

A pesquisa histórica aponta, portanto, para a possível confecção da Imagem de Nossa Senhora do Rosário por importante escultor da época, tanto pelas características que apresenta quanto pelas influências recebidas pelo município. Até os primeiros anos do século XXI a imagem em questão podia ser vista no altar mor da Capela de Nossa Senhora do Rosário de onde foi retirada em 2005 por motivos de segurança. Sua remoção e guarda na Casa da Cultura representou assim, uma iniciativa de preservação de sua integridade bem como um reconhecimento prévio de sua importância para a comunidade local.

Confeccionada em madeira maciça e composta de encaixes, a imagem encontra-se atualmente numa sala no interior da Casa da Cultura onde permanece sempre sob os olhos atentos dos funcionários da Fundação. O acesso a ela se dá somente com a permissão do Diretor de Patrimônio Histórico. Embora sejam escassos os documentos que comprovem a origem e autoria da Imagem de Nossa Senhora do Rosário verifica-se através da necessidade de sua preservação, a importância simbólica atribuída a ela e um verdadeiro desejo de preservação que se soma aos indícios de ter sido ela a imagem mais antiga do município.

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